terça-feira, 4 de agosto de 2009

NOSSAS HOMENAGENS AOS 80 ANOS DO PROF. AMARAL LAPA (IN MEMORIA)

Em homenagem ao Prof. Lapa na data em que completaria 80 anos, gostaria de oferecer um texto que escrevi na ocasião de seu falecimento, em junho de 2000.
Mirza Pellicciotta

Morreu meu professor. Aquele que me ensinou a pensar historicamente, que me ensinou a ler História – ler estudos e documentos -; que me ensinou a identificar nos trabalhos de pesquisadores, as formulações históricas (em suas estruturas e desdobramentos); que me ensinou o valor das fontes documentais para a reescrita da própria história; que me deu fundamentos da formação do Brasil; que me ensinou a ensinar; que me ensinou a pesquisar.

Nós perdemos o Professor José Roberto do Amaral Lapa, um dos mais importantes historiadores brasileiros com quem contávamos há muito tempo para um profundo repensar da história de Campinas e região. Um repensar, por sua vez, que ultrapassava qualquer perspectiva provinciana para inserir-se na formação e no desenvolvimento do Brasil. Com estes propósitos, o Professor Lapa como era conhecido, deu início no final da década de 1970 à formação de historiadores dotados de uma perspectiva coletiva de investigação e produção teórica. Através do Departamento de História e do Centro de Memória da UNICAMP (por ele criado) juntavam-se alunos de graduação e pós-gradução, pesquisadores e estudiosos de formação diversa na busca de contribuir para a defesa e organização de um amplo acervo de documentos essencial à releitura desta mesma sociedade, estendendo-se as atenções sobre instituições, famílias, processos urbanísticos, aspectos culturais, etc.. que apareciam como elementos constituidores de nossa cidade e região.

Nos últimos anos, como que num esforço de síntese destes propósitos, o Professor Lapa passou a dedicar-se ao reconhecimento de uma Campinas pobre que no curso dos séculos fora capaz de excluir de forma brutal grande parte dos personagens que de fato a construíram. E por meio de um coro diferente dos hinos de progresso, passou a retirar do anonimato uma massa de escravos, imigrantes, desvalidos e mendigos para compor uma outra história da região. O professor teve tempo de concluir este trabalho mas não de publica-lo, e de deixar, entre tantas outras contribuições, uma mensagem clara aos seus eternos alunos: a de que o verdadeiro papel do historiador consiste em promover o resgate da dignidade histórica de todos os seus personagens.

A obra de José Roberto do Amaral Lapa encontra-se agora disseminada na vida de várias gerações de estudantes, de pesquisadores, de professores, de jornalistas, de membros das instituições locais, das Universidades que integrou, dos leitores de seus estudos, e também, na vida daqueles que sem o conhecerem, receberão seu legado por meio da existência do Centro de Memória da UNICAMP e do próprio Departamento de História desta Universidade – que ajudou a formar e a desenvolver -, e acima de tudo, por meio de suas contribuições definitivas à historiografia brasileira, em seu mais amplo sentido.

Somos professores e reafirmamos o nosso compromisso de sê-lo. Mas, em particular, somos professores que reafirmamos o compromisso de partilhar de um conhecimento rigoroso e investigativo sem fronteiras, um conhecimento coletivo e coletivizador que possa contagiar cada aluno e envolve-lo na tarefa de produzir novas frentes e perspectivas de saber. Obrigada, professor José Roberto do Amaral Lapa, por me permitir partilhar de uma perspectiva tão cristalina: o de buscar o conhecimento com base no mais profundo respeito pela soma de cada um e em meio ao qual ninguém possui propriedade, apenas compromissos. Mas, acima de tudo, obrigada por nos esclarecer sobre o papel que nosso conhecimento deve cumprir nesta sociedade: o de restituir dignidade histórica aos seus integrantes, em particular àqueles que dela se acham excluídos, seja no passado, seja no presente.

PRINCIPAIS TRABALHOS DO PROF. DR. JOSÉ ROBERTO DO AMARAL LAPA
Lapa, José R. do Amaral. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Nacional, 1968
Lapa, José R. do Amaral. Economia Colonial. São Paulo: Perspectiva, 1973
Lapa, José R. do Amaral. Historiografia Brasileira Contemporânea: A História em Questão. Petrópolis: Vozes, 1976
Lapa, José R. do Amaral (Texto Inédito e Apresentação). Livro da Visitação do Santo Ofício da Inquisição ao Estado do Grão-Pará (1763-1769). Petrópolis: Vozes, 1978
Lapa, José R. do Amaral (org.). Modos de Produção e Realidade Brasileira. Petrópolis: Vozes, 1980
Lapa, José R. do Amaral. História e Historiografia – Brasil pós-64. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985
Lapa, José R. do Amaral (org.). História Política da República. Campinas: Papirus, 1990
Lapa, José R. do Amaral. O Sistema Colonial. SP: Editora Ática, 1991
Lapa, José R. do Amaral. A Cidade: os Cantos e os Antros – Campinas 1850-1900. São Paulo: Edusp, 1996
* Além dessas obras, há inúmeras publicações dispersas em Livros Coletivos, Periódicos, Anais de Eventos, Relatórios de Pesquisa entre outros.

Por fim, vale considerar que em 2008, numa parceria entre as editoras da USP e Unicamp, o Centro de Memória conseguiu publicar "Os Excluídos. Contribuição à história da pobreza no Brasil (1850-1930)".
+ Conheça a homenagem feita pelo blog Pró Memória de Campinas clicando no título

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